19 de outubro de 2010

64 é logo aqui.

A sucessão presidencial deste ano escancarou um cenário equidistante a 1964 - Golpe Militar. Naquele ano, tínhamos um governo progressista de João Goulart, talvez, ideologicamente, um pouco mais ousado, todavia, não tão sólido como o de Lula, porém iguais no modus operandi, da mesma forma que as forças conservadoras, fortes e golpistas, continuam predominantes e organizadas, puxadas por setores retrogrados do agronegócio, da Igreja Católica, da mídia e de muitos juristas.
A iminente derrota dos conservadores representados na candidatura Serra, levantou a maior campanha difamatória que a democracia brasileira se tem notícias. A baixaria extrapolou os limites legais e fez de Dilma Rousseff, a candidata governista, a pessoa mais odiadas deste país, da mesma forma que Lula é odiado pela imprensa oligarca.
A descontrução da imagem de Dilma foi facilitada por uma ferramenta altamente poderosa: a internet. Via e-mails, youtube, blogs, orkut e twitter a mentira correu solta. Espalharam vídeos, slides, textos e até a "ficha-suja" da Dilma, cunhada pela Veja e Folha de São Paulo, acusando-a de terrorista, assassina, assaltante, atéia, abortista "a favor de matar criancinhas". Ainda, afirmando que Dilma iria fechar igrejas e cercear o direito a informação. 
O ápice do talento para a mentira criou o episódio em que Dilma se disse tão confiante, chegando a sugerir-lhe frases do tipo: "Nem Jesus Cristo poderá conter minha vitória nas urnas". Ou seja, falácias, mentiras, enganações por muitas vezes repetidas e proferidas, que ao longo do processo eleitoral foram tornando-se fatos reais, verdades absolutas, trazendo consigo a suspeita e desconfiança sobre Dilma no inconsciente coletivo e, consequentemente, o segundo turno a reboque.
A princípio, o segundo turno foi encarado com derrotismo pelas forças progressistas. Porém, a medida em que a campanha se acirrou, a militância e as forças de esquerda se uniram, com excessão do PV e da candidata Marina Silva, que provaram na neutralidade, a opção pelo centro, local cômodo e sugestivo a quem não tem lado e não se posiciona.
Ontem a noite, num momento histórico, num palco também significativo para as esquerdas - o teatro Casa Grande na cidade Maravilhosa - fundado em 1966 e considerado como refúgio dos perseguidos pelo regime militar, reuniu célebres personalidades, artistas, intelectuais e ativistas em apoio à candidata petista. Leonardo Boff, Chico Buarque, Oscar Niemayer, dentre outros tantos defenderam a dignidade reconquistada, a reconstrução do Estado brasileiro e a soberania nacional e, sobremaneira, a sua continuidade no primeiro governo chefiado por uma mulher na história.
Leonardo Boff disse que o PSDB faz políticas ricas para os ricos e políticas pobres para os pobres. “A esperança venceu o medo. Agora, a verdade vai vencer a mentira.” Chico Buarque declarou também seu apoio a Dilma, “mulher de fibra, com senso de justiça social”. Para ele, o governo Lula não corteja os poderosos de sempre. "Fala de igual para igual com todos. Nem fino com Washington, nem grosso com a Bolívia. Por isso, é respeitado no mundo inteiro como nunca antes na história desse país".
Ao final do ato, Dilma proferiu um dos discursos mais bonitos que já acompanhei. “Quem perde, ganha uma grande capacidade de lutar e resistir. Disso, uma geração não pode abrir mão. Eu tenho muito orgulho das minhas derrotas, que fizeram parte da luta correta”, afirmou Dilma.
Porém, mesmo que as pesquisas neste instante dão claridade à possível vitória de Dilma, temos que resgatar a história e entender que ela sempre se repete, independente de seus atores. O golpe em 1964 foi concretizado pelos mesmos motivos que hoje a direita dissemina. Os argumentos da TFP - Tradição, Família e Propriedade é latente e muito presente em muitos movimentos contemporãneos, sejam estes laicos ou eclesiais, da mesma forma em que segmentos da Maçonaria representam ser grandes forças resistentes às mudanças de base social. Finalmente, a mídia ou a imprensa são controladas pelas mesmas famílias de outrora. Juntando estes grupos, vemos os mesmos combatentes do Estado Soberano, Livre e socialmente justo, o qual tanto sonhamos. Sejamos sentinelas e militantes propagadores da justiça e da fraternidade. Sejamos construtores e construtoras, sejamos operários e operárias para sustentar a edificação do País que sonhamos.

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