13 de novembro de 2009

Palavras de resistência

Seguindo a sugestão de uma cara colaboradora do Mandato Alternativo, estaremos a partir desta postagem, publicando artigos de pessoas que desejam expor em nosso blog suas opiniões, acerca de temas variados. Para começar com tudo, publicamos abaixo uma brilhante intervenção da amiga Ana Carla Barbosa*.
Sou uma pessoa normal, de vida normal. Há quem me chame de careta, exigente, chata. Concordo com todos que o dizem. Concordo quando dizem que me falta um pouco de “bobeira” às vezes. É, falta mesmo.Em alguns dias, consigo até mesmo pensar apenas na cor do esmalte que cairia bem em minhas unhas, no programa de TV que há tempos não assisto, nos lugares em que eu e meu namorado iremos quando nos encontrarmos de novo. Esses dias de pensamentos leves me são muito agradáveis.
Embora dias de ócio intelectual sejam fundamentais para conservarmos uma mente saudável e uma personalidade que não soe arrogante, certos debates, certas reflexões, certas impressões e opiniões estão inscritas em mim. Inscritas em mim como sujeito político.
E se tem algo do qual tenho consciência, é de meu papel político. Para quem tenta me arrastar para a apatia pós-moderna, um aviso: ainda existe pelo que se lutar.
Posso (ou devo) parar e descansar sim, mas não posso homogeneizar todo caso que me peça disposição de consciência e ação. Fingir ou esquecer um conflito pela simples finalidade de compartir da visão “essas coisas não valem a pena” ainda não me fez a cabeça.
Nunca foi fácil resistir à massa descrente. A própria descrença não pode ser de todo julgada. Coisas aconteceram e acontecem para chegarmos até aqui, nesse estado de liquidez e pouca vontade, como diria Bauman.
Tenho fé na minha vontade e na vontade de outros, que ao contrário do querem que pensemos, não são tão poucos assim. Nunca fomos poucos, a questão é que incomodamos muito. Nós, caretas, exigentes e chatos incomodamos por conseguirmos ler toda a semiótica à nossa volta, por procurarmos ler a primeira história antes de analisar a atual.
Quando se tem a idéia total, o estranhamento é maior. E por se tratar de coisas maiores, o fôlego dos chatos é constante, é instigador. Respiramos mais e mais e mais, respiramos para aqueles que querem nos sufocar.Ideologias, classificações, estudos...
Não importa a denominação. Hoje é um dos dias de ócio e não vou comprovar minha tese através de outros autores e mais pesquisas. Hoje é um dia de ócio, entretanto, aprendi que a atuação é constante.Discriminação, privação, exploração. Se este é o cenário, não importa. Importante é o antagonismo: igualdade, educação e liberdade de pensamento. Importante é que os atores tenham crítica e desencadeem processos.
Dia desses, fui surpreendida com uma frase pejorativa a respeito de certa política pública de educação. Não sabem, não entendem, não enxergam todo o processo por trás de qualquer ação pública. Muito mais fácil é banalizar e ostentar posicionamentos sem conhecimento ou bom senso. A carência de debate e percepção é tamanha, que em vez de me chatear, me faz sentir maior a motivação e obrigação de ir certa no caminho ferrenho, mas compensador, da contrução da igualdade e integridade humana.
Ainda que tentem me deter na cegueira de um preconceito ou na sordidez da má vontade, vou firme, firme na consciência de minha ação e minha dignidade.
Aos que tentam vetar a voz dos pensantes e ativos, deixo umas palavras de autoria de Brecht. Elas elucidam bem o que venho tentando dizer texto acima e vida afora.
"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.
(*) Estudante do 2º ano de Comunicação Social-Jornalismo da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Londrina. Entretanto, sua casa é Nova Andradina, Mato Grosso do Sul

2 comentários:

  1. Parabéns Moça!
    Sofri o processo inverso. Quando eu era mais jovem, era mais acomodada, hoje sou mais politizada e procuro sempre ter um olhar crítico diante das coisas. Geralmente quando se é jovem a pessoa é mais contestadora, mais rebelde. mas com o tempo vi que rebeldia e vontade de mudar não é característica exclusiva da juventude.
    Parabéns pelo texto!
    Maria Aparecida Guimarães

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  2. PARABÉNS PELO TEXTO...

    PRECISAMOS DE JOVENS COMO VOCE CONSCIENTE DO SEU DEVER DA MUDANÇA SÓCIO-ECÔNICA...

    PARABENS ANA !!!!

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